05/04/2006

A flor que tu me deste

Sabes, ainda guardo a flor que tu me deste. Rosa vermelha. Lembraste?
Deste-ma quando fui ao teu encontro adúltero, num centro comercial qualquer. A flor sorriu para mim e eu estava feliz. Dividida, mas feliz.
Plantei-a numa jarra vazia. Enchi-a de água e ali ficou ela, sem que houvesse um dia em que a não cheirasse ou acariciasse. Como te fazia com a minha mão. Ficou aberta e reluzente durante algum tempo.
Para meu desasossego, a flor secou mais rapidamente do que eu poderia imaginar. As pétalas murcharam e ficaram castanhas. Secas. Velhas. As verduras dos fetos que a envolviam, cansaram-se e inclinaram-se, mortas para beijar a prateleira da estante, onde tinham aprendido a viver. Sentiam falta do meu carinho diário, que nos tinha unido apaixonadamente.
De vez em quando, tocava-lhe, mas ela já não sorria nem, respondia quando lhe falava. Nem me olhava como outrora. Eu insistia, mas a flor, prostrada, não compreendia.
Com o tempo, deixei de sentir vontade de lhe tocar. Fazia lembrar-me de ti e das tardes durante a semana, em que o sol brilhava, a chuva caía e o filme continuava.
Sentia saudades da flor, quando estava ainda purpura, flamejante, quando estava, ainda, feliz.
Hoje, atentava-a e recordava os meu dias de juventude. Pensava como era possível olhar para ela e, ela permanecer como a deixei. Sabes, ainda guardo a flor que tu me deste, o amor que me ofereceste, a saudade que me trouxeste e a vida que me roubaste.

Sem comentários: