Para P.B.
Acordo com a sensação de que te perdi.
A dor é tão forte, que parece que arrancaram uma parte de mim, que alguma coisa está a saír do meu corpo. É terrível, esta sensação.
Não me quero levantar. Prefiro adormecer de novo para camuflar este sentimento, para esquecer que o mundo real, realmente existe.
Nunca sonho contigo, ou se sonho, não me lembro. Ainda bem.
Hoje é sem sorrisos que te recordo. Apenas lágrimas.
E lembro com uma saudade inexprimível todas as conversas, todos os momentos, de cada palavra que te disse, que me disseste, tantas vezes em silêncio. Não omito um único pormenor...
Não consigo esquecer. És meu, mesmo que sejas de outra. Tenho a certeza. Tenho a certeza de que serás para sempre meu, mesmo que não estejas comigo. Hoje, apercebo-me o quanto me fazes falta e apenas consigo chorar.
Não sei o que dizer para desabafar, porque apenas o teu nome, todos os momentos eu consigo recordar. É apenas sobre isso que posso falar.
Queria desaparecer, deixar de ser eu só por uns dias, para não ter de enfrentar esta realidade irreal, surreal que é a minha vida contigo.
Ligas-me constantemente a horas despropositadas e eu escondo o que realmente sinto debaixo desta carapaça forte de supermulher que aguenta tudo, que suporta tudo, que prefere deixar-te a ser rejeitada, que prefere largar-te à tua vida real antes que a magia se dissimule e se torne numa vida de dia a dia que tanto necessito, mas que conscientemente racionalizo se não se tornaria apenas em mais uma relação que se esvai com o quotidiano.
Surgem-me ideias e pensamentos nunca antes experimentados. Acredito no teu amor por mim, mas não quero acreditar nele, porque me faria fraquejar, assumir sentimentos que poder-se iam transformar em mágoas. Deixo que as coisas fiquem assim, porque no fundo, mesmo que te perca, não te perderei nunca. Preciso do dia a dia, mas o teu dia a dia não é meu. Sei o que sinto e não quero sentir, por isso, não sinto. Guardo. Não verbalizo. Persisto no bac que me deu assim que te vi pela primeira vez.
Lá estavas tu. Mas, comparado com o que senti nessa noite, todas as outras noites, todos os outros dias, nenhuma vez foi tão forte e inquestionável como está a ser hoje.
Não sei o futuro e, como em tudo aquilo que me provoca incertezas, não quero saber. Sinto. Sinto muito. Mas, no fundo eu quero a certeza, mas não admito que a quero.
Deixo-te viver este momento e refugio-me na minha vida, no meu trabalho, naquilo que sei poder controlar.
Sim, tenho uma vida contigo, talvez outra, ainda não entendi. Uma vida paralela que transcende tudo o que é racional, terreno, mundano, tudo o que as minhas anteriores relações foram e tudo o mais que as minhas histórias futuras possam vir a ser. Tu és tu. Eu sou eu. E juntos somos um só.
Mescla de histórias reais e ficcionadas, de encontros e desencontros entre pessoas diferentes e pessoas iguais. As várias vidas das mulheres e dos homens que conheço e desconheço. As mentiras, as verdades. As duplas vidas, os circulos de vidas onde tantos se encontram e desencontram, numa sociedade em crescente decadência.
12/04/2006
05/04/2006
Amor
O amor surge quando os olhos se encontram e se desejam ver de novo.
Brota quando se escuta uma voz que se quer perto do ouvido, como um segredo que se revela num murmurio.
Desponta por acaso, ao cerrar os olhos e constatar que não importa o número de vezes que os abrimos e fechamos, porque é sempre a mesma imagem que se vê.
O amor traz consigo noites de vigília e quando, finalmente se adormece, os sonhos são, noite após noite, iguais. Ou se não são iguais, é o mesmo riso, a mesma voz, o mesmo ser, a mesma cara, o mesmo olhar... Tudo o que queremos rever.
O amor é como uma nuvem que passa dentro do coração e que, estando carregada de carinho, despeja magicamente sobre a alma, por vezes incerta, a intensidade de um sentimento que só o tempo ou a vida podem esgotar.
Mas há amores impossíveis, há equívocos, há barreiras que não se podem galgar. Há olhares que passam a desviar-se, vozes que deixamos de ouvir cantar, sorriso que se deixam de dar, ficando alguém a sofrer.
O amor aparece quando menos se espera e nada se pode fazer para evitá-lo.
Brota quando se escuta uma voz que se quer perto do ouvido, como um segredo que se revela num murmurio.
Desponta por acaso, ao cerrar os olhos e constatar que não importa o número de vezes que os abrimos e fechamos, porque é sempre a mesma imagem que se vê.
O amor traz consigo noites de vigília e quando, finalmente se adormece, os sonhos são, noite após noite, iguais. Ou se não são iguais, é o mesmo riso, a mesma voz, o mesmo ser, a mesma cara, o mesmo olhar... Tudo o que queremos rever.
O amor é como uma nuvem que passa dentro do coração e que, estando carregada de carinho, despeja magicamente sobre a alma, por vezes incerta, a intensidade de um sentimento que só o tempo ou a vida podem esgotar.
Mas há amores impossíveis, há equívocos, há barreiras que não se podem galgar. Há olhares que passam a desviar-se, vozes que deixamos de ouvir cantar, sorriso que se deixam de dar, ficando alguém a sofrer.
O amor aparece quando menos se espera e nada se pode fazer para evitá-lo.
Mulher
É o desejo de acabar. É a vontade de pôr fim a tudo o que nem sequer começou, mas se quer ver terminado.
É o anseio de descobrir se vai dar certo ou não.
É querer que o futuro chegue depressa para ver como tudo se esgota.
É querer saber se irá, algum dia nascer dentro de nós uma criança, ou se a esterilidade emocional tomará conta da nossa vida e a deixará vazia de qualquer significado aparente.
É a sede de conhecer o resultado de um exame antes que ele se faça.
É a curiosidade extrema de descobrir se se vai amar.
É a pretenção louca que o tempo corra mais depressa do que a ele próprio se permite.
É a vontade de acabar com este sufoco de querer que a vida passe depressa para descobrirmos se o nosso maior sonho vai ou não realizar-se.
É o anseio de descobrir se vai dar certo ou não.
É querer que o futuro chegue depressa para ver como tudo se esgota.
É querer saber se irá, algum dia nascer dentro de nós uma criança, ou se a esterilidade emocional tomará conta da nossa vida e a deixará vazia de qualquer significado aparente.
É a sede de conhecer o resultado de um exame antes que ele se faça.
É a curiosidade extrema de descobrir se se vai amar.
É a pretenção louca que o tempo corra mais depressa do que a ele próprio se permite.
É a vontade de acabar com este sufoco de querer que a vida passe depressa para descobrirmos se o nosso maior sonho vai ou não realizar-se.
Desencontro
Esta noite, a lua não nasceu.
Andámos, por caminhos paralelos, milhas de estrada sem lhe encontrar o fim.
Procurámo-nos pela noite vazia de cor, uma noite diferente de todas as outras noites em que passeamos por Lisboa, em busca da intensidade de luz, inventada pela imensidão de candeeiros altos e esguios. Ou pelos focos de lazer das imensas discotecas que iluminam as ruas da cidade.
A noite estava escura como nunca a tínhamos visto. As vozes estavam caladas, as estradas apagadas, as lâmpadas fundidas, as calçadas desertas.
Esta noite, a lua decidiu não nascer, ficando nós desprovidos de admirar a beleza dos corpos sem nome, que constantemente passam por nós sem darmos por isso.
Procurámo-nos por parte incerta, mas como a cidade estava escura e não havia uma alma acasa a quem pedir lume, seguimos, paralelamente, milhas de estrada, de regresso a casa.
Andámos, por caminhos paralelos, milhas de estrada sem lhe encontrar o fim.
Procurámo-nos pela noite vazia de cor, uma noite diferente de todas as outras noites em que passeamos por Lisboa, em busca da intensidade de luz, inventada pela imensidão de candeeiros altos e esguios. Ou pelos focos de lazer das imensas discotecas que iluminam as ruas da cidade.
A noite estava escura como nunca a tínhamos visto. As vozes estavam caladas, as estradas apagadas, as lâmpadas fundidas, as calçadas desertas.
Esta noite, a lua decidiu não nascer, ficando nós desprovidos de admirar a beleza dos corpos sem nome, que constantemente passam por nós sem darmos por isso.
Procurámo-nos por parte incerta, mas como a cidade estava escura e não havia uma alma acasa a quem pedir lume, seguimos, paralelamente, milhas de estrada, de regresso a casa.
Desesperado
Hoje estou em casa.
Tu estás onde estás.
Sentada na minha cama, com a janela entreaberta, fumo o último cigarro da noite. Tu fumas o primeiro dos dez que fumas por dia.
Hoje olho as mesmas estrelas que tu, mesmo sem estar contigo, e estou.
Estás sentado ou de pé, atarefado ou quieto, de frente para o mar, ansioso por uma noite calma. Com certeza.
Olho mais uma vez o céu, e penso em ti como penso por vezes.
Hoje não procurei. Não te vi. Não te quis ver. Não sorvi o teu conhecimento e não partilhei contigo, frases feitas ou pensamentos ocasionais. Reservei o dia para mim. Tem de ser assim.
O carro do meu pai tentou persuadir-me a ir ao teu encontro, mas respondi-lhe que não.
Hoje penso em ti como penso poucas vezes e a saudade não cresce. Amanhã será diferente. Certamente diferente. Que assim o seja.
Tu estás onde estás.
Sentada na minha cama, com a janela entreaberta, fumo o último cigarro da noite. Tu fumas o primeiro dos dez que fumas por dia.
Hoje olho as mesmas estrelas que tu, mesmo sem estar contigo, e estou.
Estás sentado ou de pé, atarefado ou quieto, de frente para o mar, ansioso por uma noite calma. Com certeza.
Olho mais uma vez o céu, e penso em ti como penso por vezes.
Hoje não procurei. Não te vi. Não te quis ver. Não sorvi o teu conhecimento e não partilhei contigo, frases feitas ou pensamentos ocasionais. Reservei o dia para mim. Tem de ser assim.
O carro do meu pai tentou persuadir-me a ir ao teu encontro, mas respondi-lhe que não.
Hoje penso em ti como penso poucas vezes e a saudade não cresce. Amanhã será diferente. Certamente diferente. Que assim o seja.
Third Floor on a Friday night
Enfiaram-se dentro de um prédio onde já tinham vivido havia anos.
Ele pegou nela como a uma noiva e rasgou-lhe a pouca roupa que tinha no corpo. Ela deixou-se ficar sem resposta. Estava disposta a deixar que ele fizesse dela o que quisesse. Às vezes, é bom entregarmo-nos sem resistência.
Ele arrancou os botões das calças, baixou o par de boxers que ela lhe havia oferecido num aniversário que não o dele, e entrou nela. Penetrou-a profundamente, como quem procura um orgasmo voraz. Como quem se quer fundir. Como quem ama desmensuradamente, que tem vontade de tornar dois corpos num só. Entrou e saíu, continua e arrojadamente, ouvindo e excitando-se com os gemidos e sons de prazer que dela estremeciam. Estavam de olhos abertos. Era saboroso apreciar, às claras, o prazer que partilhavam.
Ela entrou nele e agarrou-o pelos olhos. Ele não aguentava o seu olhar. Era um misto de raiva, amor, ciúme, tristeza que ele não sabia entender. Deixou-se, mesmo assim, avassalar por ela e agora, era ele quem gemia e murmurava sons excitantes.
Presos pelos sexos e pelo olhar, observados pelas quatro paredes que envolviam a escadaria onde se amavam, explodiram em simultâneo, soltando gritos de emoção, lágrimas e sorrisos de cumplicidade
Abraçaram-se, ainda quentes.
O elevador estava parado à porta, para levá-los ao terceiro andar do prédio ao lado.
Tiraram, ao chegar, as chaves do bolso e introduziram a escolhida na fechadura. Silenciosamente.
Atiraram a roupa que não traziam vestida para cima de uma cadeira que os observava. Ela percorreu as mãos pelo seu corpo, ainda húmido. Ele olhou-a, pegou-a ao colo, deitou-a na cama e amou-a devagar.
Ele pegou nela como a uma noiva e rasgou-lhe a pouca roupa que tinha no corpo. Ela deixou-se ficar sem resposta. Estava disposta a deixar que ele fizesse dela o que quisesse. Às vezes, é bom entregarmo-nos sem resistência.
Ele arrancou os botões das calças, baixou o par de boxers que ela lhe havia oferecido num aniversário que não o dele, e entrou nela. Penetrou-a profundamente, como quem procura um orgasmo voraz. Como quem se quer fundir. Como quem ama desmensuradamente, que tem vontade de tornar dois corpos num só. Entrou e saíu, continua e arrojadamente, ouvindo e excitando-se com os gemidos e sons de prazer que dela estremeciam. Estavam de olhos abertos. Era saboroso apreciar, às claras, o prazer que partilhavam.
Ela entrou nele e agarrou-o pelos olhos. Ele não aguentava o seu olhar. Era um misto de raiva, amor, ciúme, tristeza que ele não sabia entender. Deixou-se, mesmo assim, avassalar por ela e agora, era ele quem gemia e murmurava sons excitantes.
Presos pelos sexos e pelo olhar, observados pelas quatro paredes que envolviam a escadaria onde se amavam, explodiram em simultâneo, soltando gritos de emoção, lágrimas e sorrisos de cumplicidade
Abraçaram-se, ainda quentes.
O elevador estava parado à porta, para levá-los ao terceiro andar do prédio ao lado.
Tiraram, ao chegar, as chaves do bolso e introduziram a escolhida na fechadura. Silenciosamente.
Atiraram a roupa que não traziam vestida para cima de uma cadeira que os observava. Ela percorreu as mãos pelo seu corpo, ainda húmido. Ele olhou-a, pegou-a ao colo, deitou-a na cama e amou-a devagar.
Aquele bar
Não chovia. O sol desaparecia no céu, embora desperto, embora fosse Inverno.
Cheguei, e tu já lá estavas. Como sempre. Sentado num banco de madeira escura, ao fundo das escadas, virado para o mar. Como sempre.
Embora com as costas de frente para mim, viste-me chegar.
Eu, imóvel ao cimo da escadaria, contemplava o horizonte encoberto, onde ansiava estar, para me perder, para me soltar em toda a existêcia daquela paisagem que me era oferecida por uma natureza tornada viva, com o embater da água nas rochas, pintando o céu.
Vi-te.
A tua boca abriu-se num sorriso e a tua mão tacteou insistentemente no banco escuro em que te sentavas, como um convite a descer. Sorri, em resposta.
Desci. Estava já perto de ti. Conversámos o que nunca imaginámos. Muito ficou por dizer.
Olhámos à direita e o dia caía suavemente, contrariado. Do lado esquerdo, o céu permanecia azul. Escuro. Passaram pássaros, voando sobre nós, perdidas em bandos, sós. Eu não conseguia distinguir umas das outras. Mas tu conseguias. Como sempre. Ensinaste-me os seus nomes e como voavam. Soube, finalmente, diferenciá-las e o meu olhar perdeu-se nessa magia de pairar sobre os corpos terrenos, sob os espíritos supremos.
Contei-te sobre os meus anseios, as minhas vontades e as minhas mais profundas ambições. Senti-me serena.
Enquanto o dia se desmanchava, formáva-se sobre nós uma tela imaculada e singular, onde o sol tornava o céu ocre e as nuvens o transformavam em dia e, simultaneamente, noite. Tudo se fortalecia em mim. Tudo sonho. Tudo é afecto. Tudo é paixão. Tudo é segredo. Tudo em segredo.
Cheguei, e tu já lá estavas. Como sempre. Sentado num banco de madeira escura, ao fundo das escadas, virado para o mar. Como sempre.
Embora com as costas de frente para mim, viste-me chegar.
Eu, imóvel ao cimo da escadaria, contemplava o horizonte encoberto, onde ansiava estar, para me perder, para me soltar em toda a existêcia daquela paisagem que me era oferecida por uma natureza tornada viva, com o embater da água nas rochas, pintando o céu.
Vi-te.
A tua boca abriu-se num sorriso e a tua mão tacteou insistentemente no banco escuro em que te sentavas, como um convite a descer. Sorri, em resposta.
Desci. Estava já perto de ti. Conversámos o que nunca imaginámos. Muito ficou por dizer.
Olhámos à direita e o dia caía suavemente, contrariado. Do lado esquerdo, o céu permanecia azul. Escuro. Passaram pássaros, voando sobre nós, perdidas em bandos, sós. Eu não conseguia distinguir umas das outras. Mas tu conseguias. Como sempre. Ensinaste-me os seus nomes e como voavam. Soube, finalmente, diferenciá-las e o meu olhar perdeu-se nessa magia de pairar sobre os corpos terrenos, sob os espíritos supremos.
Contei-te sobre os meus anseios, as minhas vontades e as minhas mais profundas ambições. Senti-me serena.
Enquanto o dia se desmanchava, formáva-se sobre nós uma tela imaculada e singular, onde o sol tornava o céu ocre e as nuvens o transformavam em dia e, simultaneamente, noite. Tudo se fortalecia em mim. Tudo sonho. Tudo é afecto. Tudo é paixão. Tudo é segredo. Tudo em segredo.
A flor que tu me deste
Sabes, ainda guardo a flor que tu me deste. Rosa vermelha. Lembraste?
Deste-ma quando fui ao teu encontro adúltero, num centro comercial qualquer. A flor sorriu para mim e eu estava feliz. Dividida, mas feliz.
Plantei-a numa jarra vazia. Enchi-a de água e ali ficou ela, sem que houvesse um dia em que a não cheirasse ou acariciasse. Como te fazia com a minha mão. Ficou aberta e reluzente durante algum tempo.
Para meu desasossego, a flor secou mais rapidamente do que eu poderia imaginar. As pétalas murcharam e ficaram castanhas. Secas. Velhas. As verduras dos fetos que a envolviam, cansaram-se e inclinaram-se, mortas para beijar a prateleira da estante, onde tinham aprendido a viver. Sentiam falta do meu carinho diário, que nos tinha unido apaixonadamente.
De vez em quando, tocava-lhe, mas ela já não sorria nem, respondia quando lhe falava. Nem me olhava como outrora. Eu insistia, mas a flor, prostrada, não compreendia.
Com o tempo, deixei de sentir vontade de lhe tocar. Fazia lembrar-me de ti e das tardes durante a semana, em que o sol brilhava, a chuva caía e o filme continuava.
Sentia saudades da flor, quando estava ainda purpura, flamejante, quando estava, ainda, feliz.
Hoje, atentava-a e recordava os meu dias de juventude. Pensava como era possível olhar para ela e, ela permanecer como a deixei. Sabes, ainda guardo a flor que tu me deste, o amor que me ofereceste, a saudade que me trouxeste e a vida que me roubaste.
Deste-ma quando fui ao teu encontro adúltero, num centro comercial qualquer. A flor sorriu para mim e eu estava feliz. Dividida, mas feliz.
Plantei-a numa jarra vazia. Enchi-a de água e ali ficou ela, sem que houvesse um dia em que a não cheirasse ou acariciasse. Como te fazia com a minha mão. Ficou aberta e reluzente durante algum tempo.
Para meu desasossego, a flor secou mais rapidamente do que eu poderia imaginar. As pétalas murcharam e ficaram castanhas. Secas. Velhas. As verduras dos fetos que a envolviam, cansaram-se e inclinaram-se, mortas para beijar a prateleira da estante, onde tinham aprendido a viver. Sentiam falta do meu carinho diário, que nos tinha unido apaixonadamente.
De vez em quando, tocava-lhe, mas ela já não sorria nem, respondia quando lhe falava. Nem me olhava como outrora. Eu insistia, mas a flor, prostrada, não compreendia.
Com o tempo, deixei de sentir vontade de lhe tocar. Fazia lembrar-me de ti e das tardes durante a semana, em que o sol brilhava, a chuva caía e o filme continuava.
Sentia saudades da flor, quando estava ainda purpura, flamejante, quando estava, ainda, feliz.
Hoje, atentava-a e recordava os meu dias de juventude. Pensava como era possível olhar para ela e, ela permanecer como a deixei. Sabes, ainda guardo a flor que tu me deste, o amor que me ofereceste, a saudade que me trouxeste e a vida que me roubaste.
Abraço com rima acidental
Ao deixar-te, esta tarde, deixaste-me a pensar que no nosso abraço, tudo se pode contar.
Anos de histórias e nunca nada se torna banal. Segredos que revelamos, gestos com que nos tocamos... misterioso abraço este, afinal.
O nosso abraço é longo ou curto.
Despropositado, desejado, com garra, simples, confidente, profundo, mar, canção. É bailado, é calor, é perfume, é amor. Quente, frequente, muito amado. Sincero, triste e honrado. Mel, guitarra e fado, voz, silêncio calado. Presente. Nunca ilusão! Passado, lágrima, dor, sangue, suor, oásis num deserto apagado, lume de cigarro esquecido, lua de um céu não estrelado. Rosa amarela na savana, livro aberto de linhas tontas, noite, dia, encontro, beleza, olhar, refúgio, calma, brisa, vento, serenidade. Abraço. Para sempre.
Sem puder ter este abraço, de que me valem todos os beijos? Abraço é vida, é força, é sinal, é tesouro escondido num baú de memória imortal.
É real, mesmo que ainda seja sonho.
O nosso abraço, em que penso, é mundo, é àgua cristalina, barco sem fundo, anel de fantasia, arco de triunfo.
É praia, vida, fogo e lar. É dar, receber. É tudo.
Anos de histórias e nunca nada se torna banal. Segredos que revelamos, gestos com que nos tocamos... misterioso abraço este, afinal.
O nosso abraço é longo ou curto.
Despropositado, desejado, com garra, simples, confidente, profundo, mar, canção. É bailado, é calor, é perfume, é amor. Quente, frequente, muito amado. Sincero, triste e honrado. Mel, guitarra e fado, voz, silêncio calado. Presente. Nunca ilusão! Passado, lágrima, dor, sangue, suor, oásis num deserto apagado, lume de cigarro esquecido, lua de um céu não estrelado. Rosa amarela na savana, livro aberto de linhas tontas, noite, dia, encontro, beleza, olhar, refúgio, calma, brisa, vento, serenidade. Abraço. Para sempre.
Sem puder ter este abraço, de que me valem todos os beijos? Abraço é vida, é força, é sinal, é tesouro escondido num baú de memória imortal.
É real, mesmo que ainda seja sonho.
O nosso abraço, em que penso, é mundo, é àgua cristalina, barco sem fundo, anel de fantasia, arco de triunfo.
É praia, vida, fogo e lar. É dar, receber. É tudo.
Lembrança
Quis-te morta.
Mas queria ser eu, com as minhas mãos, a matar-te.
Assombravas-me à noite, como o papão a uma criança, entrando sem licença nos meus sonhos, virando-os, inteiramente, para ti.
Reviravas os meus dias e permanecias, sem perdão, a olhar-me dentro da minha própria cabeça, a agarrar-me com as tuas mãos o meu corpo frágil, fazendo-me redimir.
Quis matar-te, mas não queria. Queria querer matar-te, mas não conseguia querer. Querer e querer querer são duas espécies diferentes de intentar.
Dei-te comprimidos a mais. Não resultou. Tu sempre aguentaste bem as drogas. Ou, se calhar, fui eu que não pus a quantidade necessária para poderes sucumbir.
Apeçonhei a tua cerveja com gotas do meu sangue envenenado pela tua ausência, mas tu sempre aguentaste bem a bebida.
Já angustiado, esfaqueei as tuas costas, rasguei a tua pele, os teus músculos até escoriarem os teus ossos. A isto não poderias resistir.
Mas tu continuavas a assombrar-me com o teu olhar dentro do meu, com o movimento do teu corpo seco na minha cabeça.
Não te consegui matar. Não te quis matar, porque, se o quisesse empenhadamente, consegui-lo-ia.
Tu sempre aguentaste bem uma facada nas costas e o abandono.
Mas queria ser eu, com as minhas mãos, a matar-te.
Assombravas-me à noite, como o papão a uma criança, entrando sem licença nos meus sonhos, virando-os, inteiramente, para ti.
Reviravas os meus dias e permanecias, sem perdão, a olhar-me dentro da minha própria cabeça, a agarrar-me com as tuas mãos o meu corpo frágil, fazendo-me redimir.
Quis matar-te, mas não queria. Queria querer matar-te, mas não conseguia querer. Querer e querer querer são duas espécies diferentes de intentar.
Dei-te comprimidos a mais. Não resultou. Tu sempre aguentaste bem as drogas. Ou, se calhar, fui eu que não pus a quantidade necessária para poderes sucumbir.
Apeçonhei a tua cerveja com gotas do meu sangue envenenado pela tua ausência, mas tu sempre aguentaste bem a bebida.
Já angustiado, esfaqueei as tuas costas, rasguei a tua pele, os teus músculos até escoriarem os teus ossos. A isto não poderias resistir.
Mas tu continuavas a assombrar-me com o teu olhar dentro do meu, com o movimento do teu corpo seco na minha cabeça.
Não te consegui matar. Não te quis matar, porque, se o quisesse empenhadamente, consegui-lo-ia.
Tu sempre aguentaste bem uma facada nas costas e o abandono.
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